Na prática...
... as coisas não se passaram 100%
conforme a teoria.
O comércio local — que deveria
abrir-se para o gramado das quadras — deu as costas aos
moradores.
Vias internas do Setor Comercial Sul —
originalmente separadas entre acesso público (térreo)
e de serviço (subterrâneo) — foram estendidas
e interligadas, tornando-se vias de passagem.
Mesmo as "Estradas
Parque" — arborizadas, afastadas das áreas
urbanas, e livres de atropelos — aos poucos vão sendo
invadidas por prédios dos dois lados, adquirindo
o aspecto das velhas avenidas suburbanas, com passarelas
metálicas para reduzir o desastre.
No entanto, permanece o sistema de endereços
referentes às quadras e aos setores.
|
|
|
Ruas, avenidas, estradas-parque
Vias de Brasília
Flavio R. Cavalcanti
Uma das maiores dificuldades para o recém-chegado a Brasília
é que as ruas e avenidas não têm nomes. As
principais têm siglas W1
Norte, W2 Sul, L1
Norte, L2. Outras,
nem isso.
Os endereços não se referem às ruas, mas
às quadras e/ou setores
— que equivalem aos quarteirões tradicionais
em todas as cidades.
Em linguagem pós-moderna, poderíamos dizer que
os endereços são "orientados a objeto"
— considerando sua posição cartesiana X, Y — e
não ao "caminho", em cuja margem se
encontra.
Levando esse conceito às últimas conseqüências,
um endereço (quadra ou setor) não
"fica" em determinada rua — esta é apenas uma
via para chegar a ele.
Felizmente, existe lógica: as quadras "500"
e "700" alinham-se ao longo da via W3;
as "400" alinham-se ao longo da L2;
e assim por diante.
Uma conseqüência dessa concepção é
que as vias separam setores e quadras. A W3,
por exemplo, separa as quadras "500" das "700"
— por isso, endereços são diferentes de cada lado
de uma via de passagem (Principal ou Secundária).
As vias foram projetadas dentro de uma hierarquia bem clara
pelo menos, no plano original, que seguia o antigo Código
de Trânsito, com velocidades máximas distribuídas
entre 80 km/h (Via Principal), 60 km/h (Via Secundária),
40 km/h (Via de Acesso) e 20 km/h (Acesso Local). Dentro das
quadras residenciais só existe esta última
sinuosa e sem saída, impedindo o tráfego de
passagem. E as ruas próximas a uma quadra residencial
(Via de Acesso, 40 km/h) são em geral quebradas
em ziguezague, desestimulando o tráfego de passagem que
não se destine elas, e tornando incômoda / antieconômica
a aceleração excessiva, devido à curta
extensão de cada trecho reto.
Por outro lado, um quarteirão nem sempre fica ilhado
por 4 ruas — pode-se andar de casa até a escola ou a padaria,
sem cruzar trânsito de veículos.
Outra conseqüência é que as quadras
não se voltam para as vias próximas — pelo contrário,
são protegidas por cortinas de arborização
e gramados. Para o acesso, usam-se vias internas, em geral
sinuosas e sem saída (o que impede o tráfego de
passagem).
Mesmo as vias externas, próximo às quadras
residenciais, deixam de ser diretas, exigindo um ziguezague
que desestimula o tráfego não destinado a elas.
Por conseqüência desse ziguezague, muitas calçadas
percorrem gramados arborizados — longe do tráfego de veículos
— e só se aproximam das vias para atravessá-las
por semáforo, faixa de pedestres ou passagem subterrânea.
Pontos cardeais
O "ponto zero" deste sistema cartesiano é a
Plataforma Rodoviária — onde se cruzam o Eixo
Rodoviário (norte-sul) e o Eixo
Monumental (leste-oeste
/ oeste-leste).
-
A leste do Eixo Rodoviário, as vias
L-1, L-2,
L-3, L-4.
-
A oeste, as vias W-1,
W-2, W-3,
W-4 / W-5.
-
Em afastamento da Plataforma Rodoviária
para o Sul, as vias S-1,
S-2, S-3.
-
Da Plataforma Rodoviária para o Norte,
as vias N-1,
N-2, N-3,
N-4.
A maior parte das vias norte-sul são conhecidas por partes:
W-3 Norte e W-3
Sul, etc. Já as vias leste-oeste são conhecidas
por siglas únicas, em toda sua extensão.
|
|
Acompanhe
|