Relatório Cruls, 1894
Relatório da 1ª Missão Cruls
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Relatorio
Preambulo
Quando, no começo do anno de 1893, o pessoal da Commissão
Exploradora do Planalto Central do Brazil, terminou os seus trabalhos
de campo, apenas de volta à Capital, cuidou immediatamente
dos trabalhos de gabinete, abrangendo todos os calculos de reducção
das posições geographicas determinadas durante a exploração,
os da differença de longitude entre Goyaz, Uberaba, São
Paulo e Rio de Janeiro, assim como dos desenhos dos caminhamentos
dos itinerarios percorridos, e cujo desenvolvimento total excedia
a 4.000 kilometros. Exigindo esses trabalhos de gabinete, até
a completa conclusão, consideravel lapso de tempo, e convindo,
por outra parte, que o mais breve possivel fossem informados o governo
e o Congresso dos resultados mais importantes colhidos pela Commissão,
resolvemos redigir um resumido Relatorio dos trabalhos effectuados
e dos principaes resultados obtidos.
Esse Relatorio, intitulado "Relatorio parcial", foi publicado
em Junho de 1893.
Ao passo que nos occupavamos da publicação do "Relatorio
parcial", curavamos activamente da redacção do
Relatorio geral; infelizmente os acontecimentos politicos sobrevindos
n'aquella época e que foram a causa de se vêr a maior
parte do pessoal technico occupado nos trabalhos de gabinete, obrigados
a abandonal-os, vieram retardar sériamente a conclusão
do Relatorio, cuja publicação definitiva só
mais tarde poderá ser levada a effeito.
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Historico
Não é nova a idéa da transferencia da Capital
do Brazil: vemol-a mencionada em varias publicações,
das quaes as de data mais antiga é o jornal Correio Braziliense,
do qual reproduzimos adiante um artigo publicado em 1868, ha quasi
um seculo. Mais tarde vamos encontral-a de novo na obra em dous
volumes do Visconde de Porto Seguro, de que tambem damos alguns
extractos. Convém notar que os autores que se têm occupado
com este projecto são unanimes em considerar a zona onde
tem os mananciaes os rios Araguaya, Tocantins, São Francisco,
Paraná, isto é, sobre o Planalto Central, por cerca
de 15º de latitude austral como sendo a mais vantajosa, sob
todos os pontos de vista.
Eis a reprodução integral das differentes publicações
relativas a tão magno assumpto:
Artigo do jornal "Correio Braziliense" do anno de 1808
Exprime-se nos seguintes termos o redactor d'essa folha, J. da
Costa Furtado de Mendonça:
« O
Rio de Janeiro não possue nenhuma das qualidades
que se requerem na cidade, que se destina a ser a Capital
do Imperio do Brazil; e se os cortezõs que para ali
foram de Lisboa tivessem assaz patriotismo... [até]
... não são mais do que méros subterfugios.
»
Annos depois acrescentava:
« A
côrte não deve residir no porto ou logar que
se destina a ser emporio do commercio... [até]
... d'onde baixariam as ordens, como baixam as aguas que
vão pelo Tocantins ao norte, pelo Prata ao sul e
pelo S. Francisco a léste. »
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Historia do Brazil-reino e Brazil-imperio
Na obra do dr. Joaquim Alexandre de Mello Moraes, acha-se pag.
55 § 9, cap. II, com o titulo "Negocios do Brazil"
que aos deputados de São Paulo foram ministradas instrucções
do governo provisorio concernentes aos interesses do Brazil e entre
outros:
« Parece-nos
tambem muito util que se levante uma cidade central
no interior do Brazil, para assento da côrte ou da
regencia... [até]
... e se favoreça por ellas o commercio interno do
vasto Imperio do Brazil. »
Foi apresentada esta proposta em sessão de 9 de Outubro
de 1821, no Palacio do Governo de São Paulo, e approvada
no dia immediato.
Alguns annos mais tarde, em 1834, o Visconde de Porto Seguro fez
renascer esta questão, e escreveu em sua obra em dous volumes
-- Historia Geral do Brazil, tomo II, pag. 814:
« E a primeira lição que devemos
colher é a de, já em tempo de paz, attendermos mais
aos meios de resistencia que deve offerecer este importante porto,
do qual permitta Deus, que seja quanto antes retirada a Capital
do Imperio tão vulneravel, ahi na fronteira e tão
exposta a ser ameaçada de um bombardeio e soffrel-o com grande
prejuizo de seus proprietarios, por qualquer inimigo superior no
mar, que se proponha a arrancar do governo, pela ameaça,
concessões em que não poderia pensar se o mesmo governo
ahi se não achasse.
E isto quando a propria Providencia concedeu ao
Brazil uma paragem mais central, mais segura, mais sã e propria
a ligar entre si os tres grandes valles do Amazonas, do Prata e
S. Francisco, nos elevados chapadões, de ares puros, de aguas
boas e até de abundantes marmores, visinho ao triangulo formado
pelas tres lagôas Formosa, Feia e Mestre d'Armas, das quaes
manam aguas para o Amazonas, para o São Francisco e para
o Prata. »
Mais recentemente, querendo o mesmo autor, conhecer de visu as
condições da localidade, fez uma excursão a
Goyaz, e da cidade Formosa dirigio ao Ministro das Obras Publicas
a communicação que transcrevemos:
« Na extensão
que acabo de percorrer ha, porém, outra região
não menos apropriada á colonisação européa...
[até]
... em direcção á denominada — serra do Cocal.
»
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Pelo que precede, vêmos que, ha quasi um seculo, foram assignaladas
as vantagens da necessidade de se mudar a Capital brazileira. Não
nos devemos pois admirar de que, em 1890, de novo a discutiram os
membros da Constituinte e lhe consagraram um artigo especial na
nova Constituição do Brazil.
Conformando-se com a determinação da Constituinte,
o Congresso consignou em 1891, uma verba para que se procedesse
á demarcação de 14.400 kilom. quadrados no
planalto central do Brazil. Foi pois, em cumprimento desta determinação
que o governo nomeou a "Commissão Exploradora do Planalto
Central do Brazil".
Instrucções
A 17 de Maio de 1892, dirigio-nos S. Ex. o Ministro das Obras Publicas
o seguinte aviso, contendo as instrucções destinadas
á Commissão:
« Em
observancia á disposição do art. 3º da
Constituição Federal... »
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