Brasília e a Cia. Mogiana de Estradas de Ferro
Resumo histórico
Flavio R. Cavalcanti
Quase 30 anos após indicar a localização quase exata de Brasília, Varnhagen licenciou-se por seis meses da embaixada em Viena e veio ao Brasil, em 1877, com o propósito declarado de verificar pessoalmente o local e os caminhos de acesso.
Ofereceu-se ao ministro da Agricultura para verificar, de passagem, a existência de bons sítios para a imigração europeia, legitimando assim a carta que escreveria de Formosa (GO). Por meio dela, introduziu nos arquivos oficiais do Império suas observações sobre a ideia da capital no planalto com a recomendação de que "vamos encaminhando para elas as estradas de ferro". Seguiu pela ferrovia Mogiana até a ponta dos trilhos, que naquele momento estavam em Casa Branca (SP); dali por diante sua expedição prosseguiu a cavalo.
Desde o "Plano Silva", a ferrovia Mogiana ficou habilitada a atingir Goiás velho a antiga capital de Goiás , prolongando-se dali até "Jurupensen", no rio Araguaia. Em tese, seria a conexão da "Corte" o Rio de Janeiro, capital do Império com Belém do Pará e toda Amazônia, "via São Paulo".
"Jurupensen", ainda não identificada [17 Dez. 2011], poderia ser a colônia Leopoldina ou outro local próximo, na foz do rio Vermelho. Dali, a navegação a vapor do rio Araguaia faria a conexão com a Estrada de Ferro Tocantins, para contornar as cachoeiras de Tucuruí e ligar-se à navegação do baixo Tocantins, para Belém e toda Amazônia.
Não foram encontrados indícios de que a ferrovia Mogiana de fato pretendesse chegar a Goiás, e muito menos levar seus trilhos tão longe para o norte.
A estratégia corrente das ferrovias paulistas, por várias décadas antes e depois de 1886, era obter longas concessões com "privilégio de zona" e estender um pequeno trecho, garantindo assim o monopólio de vastas regiões. O pequeno trecho atrairia boiadas e tropas, com a oferta de transporte; e o "privilégio de zona" interceptaria eventuais pretensões de outras ferrovias, no futuro.
Em caso de alarme, abria-se um ramal à esquerda ou à direita da linha tronco, esbarrando o avanço paralelo de eventual ferrovia concorrente.
Fato é que a Mogiana estacionou em Araguari (MG) e cedeu o prolongamento à Estrada de Ferro Goiás que se encarregaria do ônus para lhe trazer carga, da mesma forma que a Estrada de Ferro de Uberaba ao Coxim (MS), se acaso fosse mesmo construída [a concessão foi mantida pelo Banco União de S. Paulo, enquanto várias outras eram sumariamente canceladas pelo ministro Joaquim Mutinho, no governo Prudente de Morais; e a segunda Missão Cruls tinha a verba cortada, ficando impossibilitada de levantar o percurso das ferrovias de Catalão para Cuiabá (MT) e para Palma (Paranã, TO). A EFOM, única concorrência à vista, foi levada à falência pela política econômica "darwinista" de Joaquim Murtinho, no governo Campos Sales, tentando construir a linha de mil quilômetros de Angra dos Reis a Catalão; só no governo Vargas (1944) finalmente seus trilhos chegariam a Ouvidor (GO)].
Durante os governos Vargas e Dutra, no pós guerra, o tronco da ferrovia Mogiana incluindo o trecho de concessão federal recebeu investimentos para retificação e melhoria do perfil. Esse investimento foi intensificado durante o governo JK; e apesar das exigências colocadas pelo governo estadual (que retardaram a assinatura do convênio), os financiamentos federais não sofreram qualquer demora fluíram desde o primeiro dia, embora a assinatura oficial do convênio só tenha saído quase no final do período. Prosseguiram durante os governos seguintes, de João Goulart e do período militar.
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