Flavio R. Cavalcanti
A localização de Brasília foi indicada com precisão por Francisco Adolfo Varnhagen em 1849, ao publicar anonimamente ("Um brasileiro") a primeira parte de seu Memorial Orgânico, em Madri, onde exerceu funções diplomáticas por 12 anos: Mas se, abandonando a idea de achar já feita e acabada a cidade que tanto nos convem, nos resolvermos a fundar uma, segundo as condições que se requerem a toda a capital de paiz civilisado hoje em dia, a verdadeira paragem para ella é a mesma natureza quem aponta, e de modo mui determinante.... É a em que se encontram as cabeceiras dos afluentes Tocantins e Paraná — dos dois grandes rios que abraçam o Imperio; i. é, o Amazonas e o Prata, com as dos do S. Francisco, que depois de o atravessar pelo meio desemboca a meia distancia de toda a extensão do nosso littoral, e de mais a mais a meia distancia da cidade da Bahia á de Pernambuco. É nessa paragem bastante central e elevada, donde partem tantas veias e arterias que vão circular por todo o corpo do Estado, que imaginamos estar o seu verdadeiro coração; é ahi que julgamos deve fixar-se a séde do governo. (...) Como a localidade que se deverá preferir tem de estar em 15° a 16° de latitude, convêm que fique elevada sobre o mar pelo menos 3.000 pés, a fim de que sejam:... puros e saudaveis os ares... Seria facil achar posição favoravel talvez junto ás lagôas de Felis da Costa, Formoso etc....
A idéia não era nova — e a localização já havia sido apontada com bastante aproximação por Hipólito José da Costa, desde 1816; e por José Bonifácio de Andrada e Silva, desde 1821. Havia já três décadas, pelo menos, os parâmetros correntes eram:
Varnhagen afirma ter tido conhecimento desses antecedentes somente em 1851, quando esteve no Rio de Janeiro e seu Memorial Orgânico foi republicado no jornal literário Guanabara, provocando novos debates no Senado e retornando, ao autor, informações que lhe teriam permitido levantar os textos de Hipólito e Bonifácio — além de outros, mais genéricos, como o atribuído ao primeiro-ministro inglês William Pitt (1759-1806), propondo a criação de uma Nova Lisboa no interior do Brasil; ou o do chanceler Veloso de Oliveira, que em 1810 propôs ao príncipe regente D. João a mudança da côrte, do Rio de Janeiro para o interior. Na segunda edição de sua História Geral do Brasil, Varnhagen avançou indicações ainda mais precisas, no comentário sobre a ocupação do Rio de Janeiro pelos franceses em 1711:
E isto quando a propria Providencia concedeu ao Brazil uma paragem mais central, mais segura, mais sã e propria a ligar entre si os tres grandes valles do Amazonas, do Prata e do S. Francisco, nos elevados chapadões, de ares puros, de boas aguas, e até de abundantes marmores, visinhos ao triangulo formado pelas tres lagoas, Formosa, Feia e Mestre d'Armas, das quais manam aguas para o Amazonas, para o S. Francisco, e para o Prata! Varnhagen — já então embaixador do Brasil na Áustria — afirma que, ao ver impressa uma afirmação tão categórica, percebeu não ter informações seguras sobre o local, e solicitou licença de seis meses para verificá-lo pessoalmente. Assim, aos 61 anos de idade, empreendeu "uma penosa viagem a cavallo, nada menos que até á provincia de Goyaz, por nossas primitivas estradas, para de visu, e como antigo engenheiro, reconhecer essa notavel paragem que a contemplação e estudo dos melhores mappas nos havia revelado; e ver se ella correspondia perfeitamente ás condições de bondade de clima e outras essenciaes ao nosso proposito, ou se, bona fide, nos cumpria a tempo regeital-a e buscar outra n'um dos dois mencionados chapadões". Constatado o que pretendia, Varnhagen escreveu uma carta ao ministro da Agricultura, a propósito de bons sítios para a imigração européia — colonos alemães não se haviam aclimatado no litoral, causando problemas à imagem do Brasil em Viena —, datada da "Villa Formosa da Imperatriz, em Goyaz, 28 de Julho de 1877". Não perde a oportunidade de reiterar a velha proposta, inserindo-a, dessa forma, nos arquivos oficiais do Império. De volta ao posto diplomático em Viena, Varnhagem publicou em 1877 o livreto A questão da capital: marítima ou no interior?, de apenas 32 páginas, onde reuniu as informações e argumentos anteriores. A ideia de Brasília em Varnhagen
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