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Bernardo Pereira de Vasconcelos:
Terra, imigrantes,
leis, vias de comunicação
Flavio R. Cavalcanti
Bernardo Pereira de Vasconcelos apresenta o primeiro elo concreto,
na fase de construção após a independência,
entre o projeto
de Brasil à
americana, a idéia
de interiorização da capital e o desenho
que irá permear a gestação e toda história
da EF D. Pedro II — uma linha da Côrte
para o centro do país, uma para o norte e outra
para o sul — , e que renascerá no nome republicano de EF
Central do Brasil.
A virada da fase liberal para a do regresso, em
Pereira de Vasconcelos, ilustra de forma radical a transição
desse projeto orgânico de país independente (em grande
parte gestado na Europa), para um projeto que vai se dissolvendo
e preterindo por sua própria instrumentação
política imediata, até se metamorfosear em um conjunto
— filtrado, incompleto — de propostas dispersas, moldadas aos
limites da realidade impostos pelo novo equilíbrio de poder
que vai se consolidando. Mesmo entre os que permanecerão
liberais mais ou menos avançados, daí
por diante, os embates com esses limites jogarão o projeto
sempre para o segundo plano, na forma de tópicos dispersos,
incompletos, e que já não voltam a formar um conjunto
orgânico.
Formado em Coimbra, retorna ao Brasil em 1820 e elege-se deputado
em 1824 para a legislatura que irá se instalar em 1826.
Nesse meio tempo, estréia no jornal O
Universal (1825-1842), lançado uma semana após
a compra da Tipografia
Patrícia encerrar a circulação do "moderado"
Abelha do Itaculumy — que criticava o "liberalismo
exaltado", o "germe da anarquia", a "vertigem
revolucionária", as "doutrinas mais sediciosas
e mais jacobínicas" da imprensa litorânea.
O Universal parece propor para o novo país um projeto
bem definido.
Nas reflexões
publicadas a 15 de agosto de 1825, propõe a construção
de uma capital no interior do país; e um programa completo
de atração de imigrantes europeus (de preferência
ingleses, como os fundadores dos Estados Unidos) para o desenvolvimento
da indústria, tal como havia feito a Holanda independente
da Espanha, e como agora faziam os Estados Unidos independentes
da Inglaterra.
Para essa atração, recomendava a cessão
de terras, a tolerância religiosa e a proteção
das leis — nunca o pagamento ou subsídio ao imigrante,
como aliás o Brasil continuaria tentando:
O de que os povos precisam, é de que se
lhes guardem as garantias constitucionais; que as autoridades
os não vexem, que os não espoliem, que se lhe não
arranquem seus filhos para com eles se fazerem longínquas
guerras: isto, e só isto, reclama a indústria [Vasconcelos,
1999, p. 89, cf. Lazarini].
Certo, o programa contido nas reflexões
é importado — aliás, transcrição do
Programa
para o desenvolvimento do Brasil de Hipólito, 1816.
O modelo incluía, ainda, a universalização
do ensino fundamental, defendida desde o primeiro número
do Universal.
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