Resenhas da ideia da interiorização da capital
A origem da história
Flavio R. Cavalcanti - Dez. 2012
Ao fazer da interiorização
da capital uma bandeira, o governo Kubitschek providenciou
— entre outras iniciativas — um levantamento historiográfico
da idéia.
O resultado foi uma idéia
refinada e reduzida à forma de cristal, livre de
impurezas, pronta para dissolver e servir em textos de divulgação
— e, na seqüência, em obras de popularização;
e depois, com o tempo, em histórias de Brasília,
resenhas etc.
O trabalho de levantamento foi realizado
por uma equipe do Serviço de Documentação
da Presidência da República, resultando numa
série de livros publicados até 1960: Brasília:
história de uma idéia (Rio de Janeiro,
1960); e Brasília: antecedentes históricos
(Rio de Janeiro, 1960, em três volumes: 1549-1896;
1897-1955; e 1956-1961).
É de se notar que esse trabalho
não parece ter obedecido a qualquer intenção
consciente de isolar de seus contextos os diversos registros
da idéia de interiorização da
capital — apenas, a contextualização não
era o objetivo nem, provavelmente, havia tempo ou espaço
para isso.
Tampouco parece ter havido uma seleção
crítica — algumas informações indiretas
foram conferidas em fontes anteriores; outras, não, mas nem por isso foram omitidas.
Paralelamente também foram reunidos
e publicados em livro recortes da imprensa Brasília
e a opinião mundial, 1958 e 1959, quatro
volumes; Brasília e a opinião estrangeira,
1960; Diário de Brasília, 1956
a 1960, em quatro volumes; e livros relacionados, como
André Malraux - Brasília - La capitale
de l'espoir (1959); Bernardo Sayão
- Bandeirante moderno (1959); Síntese
cronológica (diversos volumes, sobre o governo
JK); Discursos; etc.
A equipe do Serviço de Divulgação
da Presidência da República contou com a participação
de intelectuais e diplomatas como Donatello Grieco, Antônio
Houaiss, Raul de Sá Barbosa, Francisco de Assis Barbosa,
entre outros; e a colaboração de serviços
análogos do Senado e da Câmara, Ministério
das Relações Exteriores, Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro (IHGB), Biblioteca Nacional
do Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), Arquivo Nacional, Museu Histórico Nacional,
Fundação Casa Rui Barbosa, Ministério
da Educação e Cultura, Departamento de Correios
e Telégrafos (DCT), Fundação Brasil
Central (Fundacentro), Agência Nacional, Biblioteca
do Exército (Biblioex), Serviço Nacional de
Proteção aos Índios (SPI), Arquivo
Público de Minas Gerais, Companhia Urbanizadora da
Nova Capital (Novacap), Universidade do Recife, etc.
Desse vasto trabalho de levantamento e
documentação — direta ou indiretamente — foi
resumida a maior parte das informações encontradas
em inúmeros livros que, desde então, abordaram
a história de Brasília e de sua idéia
ao longo de épocas anteriores. Daí, provavelmente,
a característica ausência de indicação
precisa das fontes primárias, além da manutenção
de falhas e lacunas naturais aos anos 1956-1960 — como a
repetida citação de um artigo do jornal O
Universal, Ouro Preto, 1825, que na verdade transcreveu
parcialmente um artigo de Hipólito,
1816, com pequena alteração no primeiro
parágrafo e supressão de vários outros na parte final (corte pelo pé).
A redescoberta de Hipólito
era recente, e a coleção integral do Correio
Braziliense uma raridade.
Igualmente têm sido bastante utilizadas
informações da revista brasília,
publicada mensalmente pela Cia. Urbanizadora da Nova Capital
(Novacap) ao longo de toda a construção, até
1960 — a fonte do Diário de Brasília.
A coleção de recortes de
jornais e revistas da Novacap, à época da
construção — abrangendo o que não
foi reproduzido pelo governo —, infelizmente foi bastante
danificada.
Mais recentemente, foram disponibilizadas
sucessivas reedições fac-similares do Relatório
(1894) da primeira missão
Cruls.
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