Apresentação
Apresentado ao Sr. J. B. em 1823
Ilmº Exmº Senhor
São as dedicatórias, livros
em que se mostra o breve dos discursos, animado pelas notícias
da benignidade de V. Exmª que não desdenha qualquer
memória seja de sábio ou de simples patriota:
razão porque me animo a dedicar a V. Exmª os
meus curtos pensamentos (...) me animou para meditar a bem
do Estado, não o bastante [obstante?]
conhecer a minha insuficiência; porém esta
ousadia é desculpável pela dominante paixão
do meu patriotismo.
Mas o medo reverente, com que dedico a
V. Exmª os meus pensamentos para que sejam atendidos,
espero tão bem os favores do Céu! Ele dispensa
com indulgência em meu favor por conhecer as minhas
intenções: a meditação me trouxe
à memória o como se pode aumentar o Império
em População, Cultura, Indústria e
riqueza para rebater o orgulho dos que se voltarem inimigos;
porém para que o Império se engrandeça
é preciso que os povos sejam animados com prêmios
e honras, se eles forem laboriosos em todos os ramos de
Cultura e Indústria; porém não é
o meu ânimo que V. Exmª dê ouvidos ao meu
inocente discurso, eu só rogo que seja atendido o
desejo de meu coração, posto que sem algum
título ou direito que tenha para rogar: mas com bastante
razão me desculpa o meu patriotismo, eu pago com
os meus curtos pensamentos a dívida que devo aos
meus desejos, e por isso procuro para meu desempenho tão
alto patrocínio.
O ser supremo que é Deus dê
grandeza e prolongue a estimável vida de V. Exmª
por largos anos para felicidade da nação e
do Império; o Céu permita que se eternize
o Ilustre nome de V. Exmª mais que Colberte, Pite,
e Pombal, como desejo e desejam os Lusos Brasileiros.
De V. Exmª
Fiel servo com coração puro que só
espera a felicidade geral da nação sendo o
menor criado
Paulo Frrª de Menezes Palmiro
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Referências
Projetos para o Brasil – José Bonifácio
de Andrada e Silva – org. Miriam Dolhnikoff – Cia. das Letras, 1998
"(...) esse Bonifácio permanece
praticamente desconhecido, obscurecido pela pobre imagem oficial do 'Patriarca
da Independência'. A imensa quantidade de anotações
que deixou permanece, na sua maior parte, inédita nos arquivos.
(...) Até hoje, os textos de Bonifácio vieram a público
apenas através de três coletâneas (...). Mas, nos três
casos, apenas os textos oficiais foram reproduzidos. No entanto, é
somente pela leitura das suas anotações pessoais, transcritas
neste volume, que se pode vislumbrar todo o alcance do pensamento político
e social de José Bonifácio (...)".
Patriarca da Independência - José
Bonifácio de Andrada e Silva - org. Otávio Tarquínio
de Souza - Nacional, 1939 [reeditada em
1994 pela prefeitura de Santos: "A rebeldia do patriarca"]
Obras científicas, políticas e sociais
de José Bonifácio de Andrada e Silva - org. Edgard de
Cerqueira Falcão, Revista dos Tribunais, 1965
Obra política de José Bonifácio
- org. Octaciano Nogueira, Senado Federal, 1973
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Projetos para o Brasil
José Bonifácio recebe um projeto:
Memória a bem do Império e da Pátria
"Do Arquivo Histórico do Itamaraty.
37 – Documentos Avulsos. Posteriores a 1822,
por indicação da Senhorita Constança Wright,
chefe dessa seção"
(...) persuadi-me que seria útil criar-se uma nova Província
desmembrando parte da Província de S. Paulo, de Minas Gerais,
Goiases e Cuiabá entrando pelo sertão do Sul, demarcando
um quadrado de 150 léguas de raiz, e no centro da Província
fundar-se a Corte denominada Cidade de Pedrália, esta dará
o nome à Província, este estabelecimento será
o meio de povoar o sertão, e evitava o ciúme das
mais Províncias, e Cidades, porque não pode haver
rivalidade nem questionar sobre antiguidade, estando a Corte no
centro da nova Província fica favorável a todos
os povos do império, e livre de invasão dos inimigos,
parece que a fundação da capital deve ser aos 22
graus para abranger parte dos dois climas o temperado, e tórrido;
na dita Província pode produzir os frutos da Europa, Ásia,
e América, porém nos ângulos da Província
se fundarão quatro vilas, primeira denominada Vila Mariense,
Segunda Carolina, terceira Leopoldina, quarta vila Januária,
estas para o futuro o virão a ser cidades; a edificação
do Palácio fora um quadrado de majestosa arquitetura, o
centro ficará servindo de terreiro do Paço, o terreiro
terá trezentas braças em quadro, o edifício
terá pórticos um para o Sul, outro para o Norte,
e o principal para o Oriente este será com a maior elegância,
no meio da galeria do centro da parte ocidental se edificará
a Capela Imperial, a divisa dos salões serão ornados
de pilares se colocando estátuas dos reis, os pilares serão
ornados de nichos elegantes onde se colocarão estátuas,
o primeiro nicho acima da base oito palmos continuando até
perto dos capitais e pelo exterior do Palácio iguais nichos
onde se colocaram estátuas dos heróis brasileiros
que se fizeram famosos pelas virtudes, ciências e armas;
e também pelas artes, e os que descobrirem novos ramos
de comércio, e capitalistas que edificarem Palácio
na nova Corte, os estímulos para eternizar suas memórias
fará criar grandes homens.
(...)
(...) na circunferência do Palácio e jardim haverá
uma rua de 100 palmos de largo, e pelo meio Arvoredo de Caneleiras
de Ceilão, e Cravo das Malucas, e as mais árvores
aromáticas, o incenso da Arábia, e a cânfora
de Bornéu; sendo arvoredo com esta singularidade fará
sombra dando suave cheiro aos habitantes.
Ao Sul do Palácio se demarcará uma lagoa [légua!?]
de raiz em quadro para patrimônio do Senado onde se demarcarão
ruas e quarteirões estes terão 100 braças
de comprido e 60 de largo cada frente com 30 isto é fundos
com fundos, o Senado aforará cada braça de frente
a 2$000 réis com as 30 de fundos; as casas pelo risco da
Rua Augusta, porém serão só de dois andares,
cada morada terá três braças e meia com quatro
portas 2 para loja e as dos lados uma para serventia do andar
de baixo e outra para o andar de cima, as ruas terão 80
palmos de largo, e correrão de Norte Sul, e as travessas
de Oriente ao ocidente nas travessas haverá liberdade de
seguir diferentes arquiteturas; e como as ruas hão de ser
de 80 palmos terão pelo meio arvoredo aromático
para dar cheiro suave; seguindo-se este plano os estrangeiros
admirarão; marcados os quarteirões e aforados virá
a render cada quarteirão quatrocentos mil réis por
ano por este meio em uma légua será o Senado riquíssimo,
porém deve haver um favor para todos os que fundarem casas,
ou Palácios os fundadores não pagarão foros,
nem Décima por quinze anos, isto é para os animar;
haverá de 4 em 4 quarteirões uma praça para
serventia do povo deixando um terreno para fundar Capela ou Paróquia,
e fontes; os quarteirões serão demarcados mas enquanto
se não edificarem casas o Senado os arrendará para
servirem de quintais e hortas; porém logo que haja quem
os afore a 2$000 réis a raça para edificar casas
cessará o arrendamento deixando de ser quinta, os arrendatários
não poderão edificar casa sólida apenas uma
barraca para sua habitação isto é o que me
parece abismo.
Ao Norte do Palácio se demarcará outra légua
onde se demarcarão iguais quarteirões e ruas seguindo-se
o mesmo plano da légua do Sul, porém esta légua
será de propriedade da Misericórdia, e hospital,
aforando-se as braças pelo mesmo preço dos foros
do Senado, e quando se edificarem 50 moradas de casas da parte
do Sul não se poderão edificar mais sem que se identifiquem
igual número da parte do Norte, assim se irá edificando
a cidade alternativamente isto é para que o hospital tenha
rendas para remédio dos pobres e desvalidos.
Fora da demarcação das duas léguas da cidade
se demarcarão sesmarias de meia légua medidas e
demarcadas, estas se darão a quem tiver seis Escravos,
e dar-se-á um quarto de légua de raiz a quem tiver
dois, além destas sesmarias se repartirão terras
aos pobres dando-se-lhes meio quarto de légua demarcada,
estas datas serão em maior número porque os pobres
são os que mais trabalham pelas suas precisões,
estes abastecerão a Corte, povoando-se a Província
por meio das datas de meio quarto de légua se facilitarão
casamentos porque recebendo terras ficam animados e crescerá
a população também se devem admitir Estrangeiros
que serão lavradores; em todos os campos que se descobrirem
se estabelecerão fazendas de Gado Vacum e Cavalar e Ovilhum,
a estes criadores se lhes dará uma légua de raiz;
também se tirará prova da cultura do trigo e dar-se
princípio a cultivado; para demarcação da
Província, e cidade irão Engenheiros e Matemáticos,
Naturalistas, Médicos; já disse que a Corte deve
ser aos 22 graus este ponto não poderá ser fixo
mais será mais légua ou menos onde se encontre terreno
raso mas com equilíbrio que possam correr as águas,
e onde se descubra pedra calcária e mármores, e
pedra a que os mineralogistas chamam saboceia, esta para fazer
Estátuas, e onde haja alguma ribeira que se possa encanar
para edificar Fontes, os Médicos para pesar as águas
e ver se são finas e leves, e saudáveis, os Naturalistas
para descobrir metais e vegetais que sirvam para comércio,
fazendo observações químicas em toda a província,
os Matemáticos para observar os climas e formar Mapas Geográficos
os Engenheiros para fazer planos, demarcar ruas e quarteirões
na cidade, abrir estradas na província; por estes meios
em poucos anos se povoará a província.
(...)
Ocorre-me fazer uma advertência.
A grande dificuldade para povoar o Sertão da nova Província
seria a despesa que fizessem os Sesmeiros, porém logo que
se devem [derem?]
as sesmarias medidas e demarcadas principalmente as datas aos
pobres sendo casados, e sendo solteiros se lhe darão como
condição de procurar uma companhia amável
pelos laços do Matrimônio, então crescerá
com rapidez a população; meio quarto de légua
e terreno só para uma família mas para manter muitas
sendo trabalhadores, dando-se as datas não faltarão
colonos nacionais e estrangeiros que queiram aproveitar-se do
benefício.
Mas será preciso seguir um sistema de economia, para evitar
despesas sem prejuízo do Estado; o meio fácil é
sair um corpo de tropa com soldo dobrado sendo este a recompensa
dos soldados, porém os Oficiais que acompanharem a tropa
terão estudos de matemática e engenharia para fazerem
as vezes de juízes de sesmarias, e de pilotos, e escrivão;
tirando da tropa soldados para a corda; a recompensa dos oficiais
será levarem logo um posto de acesso, este serviço
pode-se considerar como o da mais rigorosa campanha, porém
servirão seis anos e no fim deste prazo serão rendidos
por nova Corporação mas querendo continuar terão
outro posto de acesso mas entrando parte da nova Corporação
terá as mesmas recompensas; a tropa levará munições,
bagagens, cargas com mantimentos e todo o preciso para esta expedição;
deve-se publicar em todo o Império do Brasil, e nas gazetas
a notícia da repartição das terras para acudirem
colonos aproveitando-se, por este meio se povoará o Sertão
e se aumentarão as rendas do Estado; só esta Província
virá a render mais que todo o Portugal, porque sendo bem
povoada e tendo pão, vinho e azeite no polo Sul serão
gêneros que façam grande riqueza, e no polo do Norte
tendo todos os produtos da Ásia farão igual riqueza;
as cartas de datas e sesmarias serão passadas pelos empregados
nas medições tendo todo o valor, porém os
colonos serão obrigados a registrá-las nos competentes
lugares para lhe servirem de título para si e seus descendentes
ou herdeiros.
E para que os empregados se não descuidem das medições
serão obrigados a medir por mês dez sesmarias de
meia légua e sendo de quarto medirão vinte, e de
meio quarto medirão quarenta e se repartirão por
nacionais e estrangeiros e todos os que se quiserem aproveitar
do benefício, porém para que o Estado se utilize
as terras devem ser cativas pagando foro de doze mil e oitocentos
por uma légua e por meia légua 6$400 réis,
um quarto 3$200 réis, meio quarto 1$600 réis mas
pagarão o dito foro depois de passar 8 anos para que se
não desanimem no princípio do seu estabelecimento
o dito foro em toda a província avultará uma grande
renda para o Estado com a dita renda se identificarão novas
colônias, as terras devem ser cativas e não livres
por se darem medidas e demarcadas; a nova Província deve
ser a mais bem povoada, e também a de S. Paulo, e Rio Grande,
e a Província Cisplatina deve-se-lhe mudar o nome dando-se-lhe
o de Província Leopoldina.
Não obstante as novas ordens de cavaleiro parece se deve
requerer a Roma a confirmação das três Ordens
militares para que o Soberano como grã mestre como serve
o direito dos dízimos para evitar alguma cisma nos Eclesiásticos,
e ainda nos mal intencionados.
Janeiro de 1823
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